O chamado “Jardim de Ediacara” foi um período de tranquilidade no qual os primeiros organismos multicelulares complexos da Terra prosperaram. Depois de durar milhões de anos, chegou ao fim como resultado da primeira extinção em massa do planeta, cerca de 540 milhões de anos atrás.
Por quê?

Novos animais eliminam velhos animais

Não foi uma chuva de meteoritos nem a erupção de vulcões que tirou a biota ediacarana da face do planeta.
De acordo com pesquisas recentes, foi o surgimento de novas formas de vida e as mudanças que eles trouxeram para o ambiente o que desencadeou a extinção.
“As pessoas demoraram a reconhecer que os organismos biológicos também podem conduzir a extinção em massa”, disse Simon Darroch, professor na Universidade de Vanderbilt nos EUA. “Mas o nosso estudo comparativo das várias comunidades ediacaranas, primeiros organismos multicelulares do mundo, apoia fortemente a hipótese de que foi o aparecimento de animais complexos capazes de alterar seus ambientes, que definimos como ‘engenheiros do ecossistema’, que resultou no desaparecimento do Jardim de Ediacara”.

Biota ediacarana

A biota ediacarana surgiu cerca de 600 milhões de anos, evoluindo de micróbios. Eram em grande parte formas de vida marinhas passivas e imóveis. Com formatos de folhagens, discos e tubos, esses seres podem ser vistos em restos fossilizados por todo o mundo.
No entanto, ao contrário de outros animais, tais restos fossilizados são raros e distantes entre si. “Nós não sabemos muito sobre ediacaranos porque eles não produziam conchas ou esqueletos”, explica Darroch. “Como resultado, quase tudo que sabemos vem de impressões de suas formas preservadas em areia ou cinzas”.
Ao examinar estas impressões no mais novo local conhecido de fósseis ediacaranos, Farm Swartpunt, no sul da Namíbia, os pesquisadores encontraram evidências que sugerem um grande impacto do surgimento de animais complexos durante um período conhecido como a explosão cambriana. Estes animais formaram as famílias que conhecemos hoje, incluindo vertebrados, moluscos, artrópodes, medusas etc.
“Descobrimos que a diversidade de espécies neste local era muito menor, e havia evidência de maior estresse ecológico, do que em locais comparáveis 10 a 15 milhões de anos mais velhos”, conta Darroch. “Estas novas espécies foram engenheiras ecológicas e mudaram o ambiente de maneiras que tornaram mais e mais difícil para os ediacaranos sobreviverem”.

Um alerta sobre o futuro

Se os pesquisadores estiverem certos em sua hipótese, esse vai ser um sinal de alerta potente sobre a extinção de espécies.
Muitos cientistas concordam que estamos entrando em uma nova extinção em massa agora, e a atividade humana parece ser em grande parte responsável.
“Há uma analogia poderosa entre a primeira extinção em massa da Terra e o que está acontecendo hoje”, conclui Darroch. “A extinção ediacarana mostra que a evolução de novos comportamentos pode mudar radicalmente o planeta inteiro, e nós somos os mais poderosos engenheiros de ecossistema conhecidos”. [ScienceAlert]